INDICADOS AO OSCAR 2017 DE MELHOR FILME: DO PIOR AO MELHOR

11:24 0 Comments


Domingo de carnaval, dia 28, enquanto outros estarão comprometidos com a folia da data, alguns como eu, estarão ansiosos para assistir o Oscar 2017. A mudança nos membros votantes da Academia deu certo e se compararmos aos indicados do ano anterior, perceberemos uma notória diversidade nas produções e nos artistas indicados. Para quem não lembra, ano passado teve a campanha #OscarSoWhite após não ter nenhum ator negro indicado em nenhuma das quatro categorias de atuação. A polêmica obrigou a Academia a reformular seus critérios de avaliação e alguns membros votantes. Resultando assim, em indicações, e por consequência a principal função do Oscar, a valorização de produções independentes com temáticas pertinentes à um país governado por Donald Trump, como: imigração, mulheres negras em ambientes racistas e machistas, direitos LGBT, superfaturamento de agências bancárias, o pacifismo em contraponto à um cenário de guerra e a valorização de artistas - até porque sem eles, não teríamos como contar essas histórias fantásticas.


Dos palcos da Broadway para o cinema. A adaptação da peça homônima, no original "Fences", de August Wilson, é dentre os indicados o mais esquecível. Porém, existe dois componentes memoráveis na história dirigida por Denzel Washington: o roteiro brilhante, verborrágico e carregado de verdades oprimidas pelo conformismo de uma vida a dois e a atuação de Viola Davis, que certamente já garante seu Oscar dessa vez. Denzel, que também é a estrela do longa, entrega uma atuação digna mas é completamente ofuscado pela personagem de Viola, que trás na sua personagem o amargo de viver atrás de um homem que por vezes não reconhece a grande mulher que tem. E isso absolutamente foi o que mais me incomodou no filme.


Baseado na história real do soldado Desmond Doss, o primeiro Opositor Consciente a receber uma medalha de honra americana, apesar de fazer homenagem à incrível jornada de seu protagonista, cai na armadilha do ego patriota em contar apenas o lado americano, como sempre, a dos "mocinhos" que protegem o mundo. Andrew Garfield (o Homem-Aranha para quem não lembra!) é o grande destaque do filme em uma entrega total ao seu personagem, que recusa a pegar em armas em um cenário drástico de violência e ódio. O diretor Mel Gibson mostra que sabe melhor fazer um épico de guerra, como nas cenas de corpos incinerados e mutilados em quase 40 minutos de brutalidade visceral, do que em desenvolver subtramas como a visão que os americanos têm de seu inimigo, ficando por vezes preguiçoso em um roteiro amador.


Dois irmãos, um ex-presidiário e um pai divorciado, assaltam bancos para se restabelecerem financeiramente após a fazenda da família ser tomada por dívida e taxas de juros. Ilustrando de imediato o preconceito do povo texano por eles considerados "mestiços", "índios" e "mexicanos", "A Qualquer Custo" curte uma doce ironia ao ver os ianques sofrendo nas mãos dos bancos, que lhe tiram as terras da mesma forma que estes as tiraram de outras tribos no passado. A presença do poder econômico como um vilão sedutor é sentida durante toda a projeção, que enfatiza os anúncios publicitários de bancos oferecendo empréstimos imediatos e fáceis, omitido sempre a taxa de juros. Nesse sentido, o moderno faroeste funciona como um porta-voz para os americanos menos favorecidos e nos lembra que nem tudo são rosas na "terra das oportunidades".


Apesar da história de três mulheres negras terem contribuído muito para que a NASA conseguisse colocar um dos primeiros homens no espaço, mesmo sofrendo inúmeras resistências por causa de sua cor de pele e por estarem também em um ambiente machista, ser fantástica por si só, "Estrelas Além do Tempo" comete um erro considerável em uma biografia digna de filme: a pieguice. Fica notório a artificialidade de certos eventos na intenção de comover o espectador, não confiando no seu poder narrativo e verídico. Porém, a história merece ser contada e conhecida. E este é o principal valor do filme.


Impactante, crú e realista. "Manchester à Beira-Mar" é um filme que incomoda desde os primeiros minutos. O jogo construído pelo diretor te puxa e te afasta do filme a cada cena. Os diálogos, principalmente nas cenas menos infelizes, reverberam no resto da história e pontos são pinçados de maneira a questionar o protagonista e revelar o grau de sofrimento e dor que guarda para si e afeta diretamente sua relação com os outros. O luto está no rosto de Casey Affleck, paralisado e sem palavras, apesar da inexpressividade de seu personagem, o ator convence em cada segundo sua atuação fantástica e digna de todos os prêmios possíveis. Não é um filme preocupado em agradar o espectador. O objetivo aqui é mostrar a realidade de continuar vivendo mesmo tendo morrido um pouco por dentro. E de uma forma tão visceral e honesta, vinda de uma produção Hollywoodiana, o filme está acima "do que se pode esperar".


Outra biografia digna de filme indicado ao Oscar, aqui temos o menino indiano Saroo que se perde da família na Índia após entrar em um trem e acabar em Calcutá, onde está a mais de mil quilômetros de casa. Sua vida melhora após ser adotado por um casal australiano, obstinados a conceder uma vida melhor ao garoto. Apesar de sua confortável vida já em fase adulta, Saroo (Dev Patel) não se conforma em não encontrar sua família e tenta imediatamente procurá-los. O contraste do filme, primeiro focando na infância miserável do garoto ambientada na Índia e em Calcutá até a privilegiada vida na Austrália, é muito bem construída pela direção de arte a ponto que cumpre um certo poder narrativo de conceder a quem assiste a compreensão sobre os questionamentos do protagonista, que embora tenha uma vida privilegiada no momento, não abre mão de reencontrar suas origens e de lembrar quem foi. Arrastado no meio, mas brilhante no começo e no final, "Lion" destrói seu coração mas promete remendá-lo depois.


Para começar, eu assisti esse filme sem ler nenhuma sinopse ou crítica e isso foi fundamental para a percepção que tive ao assisti-lo. Portanto, creio que devo fazer o mesmo para quem estiver lendo para que, quem sabe assim, sua versão do filme seja tão boa quanto foi a minha. "Moonlight" deveria ser obrigatório e repassado às escolas primárias. É um soco no estômago, uma pancadaria na alma. Um menino com potencial que foi surrado e excluído até se transformar no esteriótipo que a sociedade quer ver: o homem negro marginalizado. Mas ainda assim o filme foge do previsível, introduzindo personagens atípicos de seus rótulos e modificando a trajetória de vida, renegada e escondida, do protagonista Chiron.


A unidade do tempo e sua multidimensionalidade provocando no espectador o significado da finitude da vida. Unindo ficção científica com drama existencial, "A Chegada" consegue o destaque primordial ao mote comum na Hollywood dos "blockbusters".  Embora o filme apresente algumas cenas de ação e excelentes efeitos visuais, tais recursos servem fundamentalmente para ilustrar a narrativa cujo o cerne passa distante de invasões alienígenas, explosões reiteradas ou a destruição em massa de cidades. Trata-se de uma proposta de edificação humana, e não destruição. Utilizando contar uma história não-linear, o filme tenta emitir o completo papel do ser humano como uma "arma" ou "agente de mudança" e o põe no centro de importância universal, como catalisador de seu próprio destino. Petulante, sem dúvida, porém primorosamente poético.


Fecho meus olhos e lembro da maioria das cenas de "La La Land". Esse é o maior legado de um promissor clássico e não tenho dúvidas que o grande queridinho das premiações deste ano irá se tornar um. Ambientado em Los Angeles, "a cidade dos sonhos", logo somos introduzidos a intensidade dos jovens promissores em busca de seus ambiciosos sonhos, em um ritmo singular da música enervante de abertura "Another Day of Sun". Mia (Emma Stone) deseja tornar-se atriz e trabalha em uma cafeteria dos Estúdios Warner. Sebastian (Ryan Gosling) quer abrir seu próprio bar de jazz, acreditando que a música contemporânea está carecendo. Dois jovens, dois sonhos. Presos em uma cidade prometida que existe muito talento para disputá-la. O musical romântico de Damien Chazelle não é apenas sobre buscar seus sonhos, ou tampouco sobre o amor. É sobre os dois disputando espaço em um coração jovem. Chazelle, que sempre trás forte referência da música em seus filmes, concedeu-nos um leque de canções memoráveis nas mais recorrentes variações de sentimentos dos protagonistas, que representam o "eu interno" em cada um de nós. Que nada mais é do que: queremos ser vistos por alguém na multidão (como a maravilhosa canção "Someone in the Crowd") porém precisamos primeiro estar prontos para sermos encontrados.

0 comentários: